
Não é somente um poema. Nasceu num momento de recolhimento no intrínseco quintal, sobrevoou nas asas de alguma borboleta ultrapassou limites, noutras galáxias, quem sabe, um pouco mais além e transcendeu... Além do Quintal!
Seja Bem-Vindo

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
sábado, 25 de dezembro de 2010
Procura
que passam a meu lado, transeuntes
apressados a esbarrar
na lentidão contemplativa dessa busca,
que vislumbra no lampejo de um olhar,
um traço, sinal, não importa,
vou saber quando encontrar.
Nos finais de tarde, envolta na estranheza
das horas que se distanciam, quase param
e silenciam as coisas,
fico a ouvir o vento, me incorporo a ele
transparente, vago, atenta a sua linguagem:
um esqueleto de folha, sementes,
um cheiro, signo,
mágico como este instante,
escolhido pela nuvem para encobrir o sol.
Quando se apaga o dia
nas noites claras, em parceria
com a solidária lua, que espreita,
ainda a busca continua e fico a indagar estrelas:
“- onde encontro, em que lugar procuro?”
E a me perder nas horas, a olhar o céu
atenta a algum lampejo, indício
de impenetrável código secreto
que possa ter acesso,
às vezes me confundo,
em alguma rota desviada a vocalizar
poema, monossilábicos
vocábulos de poeta atrás de óculos,
transitória estrela, horas de distância,
nenhum pedaço do infinito,
ou pés a flutuar.
Não desisti da busca, vital, intrínseca.
Sei, estás em algum lugar distante,
(quem sabe aqui, bem perto?)
em outro tom de violeta e fúcsia de um pôr-do-sol,
além deste oceano, noutras maresias,
outros sons de chuva,
manhãs de névoa, flor de vento,
jazz,
noutro quintal.
Espero que tempo haja,
porque apenas decidi que vou te achar.
Marlene Edir Severino 25/12/2010 - 14h56
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Dezembro
Dezembro chegou de novo.
Esperei o ano todo e agora
quero conjugar meu fogo
no imperfeito mesmo,
como somente a ele convém.
Hoje não vou escrever,
quero ir além do teclado,
quero te ver de verdade,
te olhar inteiro,
sentir teu cheiro,
te ver pulsando por mim:
iluminado.
Imprimir o calor da minha pele
roçando sobre a tua,
escrever no teu corpo,
falar com meu corpo no teu
assim
com e sem palavras...
Escrito em 10 de dezembro de 2009
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Rosas de metal
Guarda para teu deleite
algum poema que te dei, uma ou outra palavra, também
tuas rosas de metal incrustadas
em ambígua canção que ofereceu,
que eu cá num ceticismo vago sempre soube,
que a mim nunca pertenceu;
apenas essas, as últimas, monossilábicas,
pronunciadas à distância,
escombros a ecoar nos meus ouvidos,
que contrário ao previsível
não me reduz, ainda que abundante
de áspera rudeza,
apenas de ti me afasta, transforma
dormidos sonhos de provisória alegria
em amálgama de despojos.
E a chuva veio agora,
a carregar o que restou do dia que o vento esqueceu lá fora,
a apagar teu nome que desnudo da garganta,
chuva ruidosa e fria sobre todas as coisas a cair,
menos gélida, porém, que tua voz que ainda ouço
distante terreno baldio de apego,
e retribuo apenas com silêncio e já é muito;
bem-vinda, solidão!
Terça feira, 21 de dezembro de 2010
21h05
sábado, 18 de dezembro de 2010
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Respiro o silêncio da casa
e seus ruídos de ocultos silêncios,
silencioso sopro de coisas mudas,
vozes distantes de cômodos vazios,
sopro de vazio,
sopro de luz nos olhos quando escrevo.
Perco-me,
perco o poema,
me perco no poema.
Olho pela janela:
há um quintal lá fora.
Apenas estas palavras são verdadeiras.
Marlene
dezembro, 14
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Insone
Em passos sigilosos pelos cômodos da casa,
quero tragar a noite
que se desnuda
imensa,
bagagem soturna de silêncio.
Sonâmbula,
bebo tua ausência
de teu hálito inebriada,
teu cheiro em minha pele
tatuado.
O vento sussurra teu nome
lá fora,
tênue resposta, transparência
fragmentada
a me confundir.
Imersa
no silenciar dos objetos,
escondo metáforas,
insone,
atrás destas palavras.
Itajaí, 12/dezembro/2010
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Veio ao meu encontro:
simplicidade da ternura, beijo molhado
na água do aquário.
Selvagem aroma de coisas obscuras,
coração chovido;
nos olhos, as cores do mar.
Eu, horizonte de sonho,
pés a flutuar.
Sol queimante da manhã:
andamos por aquelas ruas
de cansar os pés.
À noite,
ausente e invisível
a me buscar sem ver.
Itajaí, dezembro, 03, 2010
18h02
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
De névoa esta manhã.
Depois chegou a chuva,
em rajadas,
a desabar sobre o silêncio das plantas.
Breve relâmpago prateado cortou
da chuva a gravidade.
Sussurro breve da tua voz nos meus ouvidos.
Beijo de chuva molhado.
Novembro, dezembro. Adiantada primavera.
Incerto breve: vazio de sol.
02 de dezembro de 2010
Itajaí,13h03
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Final de tarde de mormaço,
a tua espera me deparo a chamar teu nome:
lampejos de luz, vitalidade de cores, mantra
pelo vento arremessado, varou o púrpura do céu;
mas te escondes circunspecto,
em estufa de vidro, látego,
no teu aquário.
Meu chamado bateu como inseto na vidraça.
Do quintal, vi o crepúsculo
abrasado transformar-se em crua luz,
pálida tinta de paleta de aquarela.
Fugidios pigmentos de ausência.
Um pôr-do-sol a mais.
30,novembro/2010
17h05
domingo, 28 de novembro de 2010
É quase reeditado, mas não cansa
ficar aqui sem fazer nada:
o hibisco a exibir suas pétalas
aos últimos raios de sol, tremular de avencas,
dente-de-leão a espalhar sementes
ao vento, não me cansa,
ainda mais agora,
impregnada do violeta e fúcsia deste pôr-do-sol,
quando tudo em volta e até mesmo o tempo
fica tão devagar,
parece até que pára.
Mas ele fica a espera.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
sábado, 20 de novembro de 2010
Desejo
Tem um tom de vermelho meu desejo,
vesti uma calcinha da mesma cor
da cor do vinho, que bebi na taça,
depois senti calor.
Vesti também meu rosto do desejo
(às vezes essa transparência me incomoda).
Fiquei igual ao vinho, puro rubor.
Mas disfarçar nem fez-se necessário,
todo rubor aos poucos dissipou.
Somente a calcinha ficou fora do tom.
Descrente
menina, ainda brincava com boneca
nem seio tinha; magrinha, tipo vareta sem graça,
os braços pareciam maiores que todo o corpo,
sabia mais ou menos daquilo tudo
nas conversas na escola,
mas ainda esperava a palavra da mãe,
porque mãe era quem sabia naquele tempo,
tinha a palavra certa.
Tentou lavar a calcinha no tanque,
mas da mãe nada se escondia,
que sem muita conversa, perguntou:
- Já?
De inadequação o olhar da mãe
e rezou a noite pedindo com devoção
que tal não voltasse a acontecer,
sentia alguma coisa diferente;
nem de brincar dava mais vontade.
Cedo também aprendeu a ser descrente.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Oquidões
Desordenado vento
de teu silêncio, revolto e obscuro
a varrer corpóreas e intrínsecas oquidões,
salpico de hesitantes abismos:
levou em turbilhão
poeira de estrelas, galáxias,
turmalina de olhos marejados,
olho d’água,
redemoinhos, remansos,
volúpia de ambíguo deleite.
De olhos no absurdo a pés fincados no chão:
sonhar montanhas,
rudeza objetiva do óbvio.
Envaidecida com fragmentos
segui-te em atalhos,
corredor de ilusório acorde
ampliado de tua voz tingida de arco-íris.
Absorta na tarde esvaecida
a saber pouco de resíduos,
quase nada:
fragmento de cigarras secas, casulo,
de esqueleto de folhas, movimento de avencas,
código das pedras.
Despedida de tarde
macia e gris.
Sussurros da noite
imensa te afasta de mim.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Instante
olhar a cor do dia:
a manhã entrou;
com ela teu cheiro,
arrebatadora presença.
Ah!
Bem que podias
escrever-me um poema,
qualquer frase solta
de duplos sentidos;
pena...
Já se foi o instante
e o dia se vai;
acho que é assim, quase tudo,
esvai-se num segundo;
queria-te agora,
amanhã: distante
demais.
Fúcsia
Ficaria assim:
(precisa mais?)
a dançar contigo noite adentro,
pernas a roçar as tuas,
ocasional
(ou não).
Guio-me pelos teus passos
no ritmo,
corpo aquecido no teu,
fúcsia:
da cor da blusa.
domingo, 24 de outubro de 2010
Esboço
a tingir o papel de aquarela
com as tintas desse instante:
salpiquei de leveza tua imagem,
olhos focados em quimera
a valorizar teus nadas,
absurda e ilusória me recrio a cada hora.
Em atalhos poeirentos percorridos,
vislumbro estreito corredor de estrelas;
recrio-te: incansáveis começos,
recomeços ambíguos,
frágil contentamento com teus poucos.
Escassos.
Desnecessárias palavras, agônicas a escorrer,
artéria silenciosa de inúteis percursos esvaecida ao vento;
dançam no ar, resquícios: sementes de dentes de leão,
asa de borboleta, esqueletos de folhas,
suaves plumas de algodão
salpicadas de violeta, malva nuvem,
gris.
Areia fugidia da ampulheta, contagem do tempo,
gozo finito.
Silencioso desalento de imagem borrada,
vestígio de tarde guardado no papel,
absorto desejo, confuso, imenso.
Tépido poente a tingir o céu.
Marlene edir severino
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Nada
Neste momento íntimo, Intrínseco,
numa fantasia do nada, reverência ao vazio,
a valorizar resíduos do teu silêncio,
imaginar frescor em gastas palavras,
fico aqui a te sorver,
num desejo de tocar teu espírito,
maior talvez até do que
o de querer tocar teu corpo;
vislumbro arco-íris de cores dos começos,
mas este sutil entremeado,
é mera nesga de pó do que se acaba,
tem o valor de um nada,
sequer começou ou existiu.
Nem quis aqui buscar conceitos
ou certezas meras,
quando falta a palavra para o indefinível,
melhor ficar assim, a esmo;
e esta chuva agora,
fria, não mais do que esta voz
que se agiganta
e vem do poço, das entranhas,
dura, faminta,
diz coisas que não quero ouvir.
Também faz frio lá fora.
marlene edir severino
domingo, 10 de outubro de 2010
Parece que há muito te conheço,
acredita?
mas como, se somente agora é que te vi,
não fosse cética te diria:
de outra vida;
mas nem eu creio,
como impor a ti?
Nos olhamos mais do que falamos,
silenciosa conversa, de muda fala,
mas de intensos olhares,
(que olha, olha e nada diz).
Vamos,
pergunte o que quiser saber de mim,
esvazia-me, fala comigo,
ou fiquemos assim, sem dizer nada,
pois já nos conhecemos uma vida inteira,
e somos um poema
que pulsa apenas.
Desnecessário falar ou escrever.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
domingo, 3 de outubro de 2010
Ando meio hiperativa,
quem sabe tem a ver com a idade,
quero que as coisas aconteçam
na freqüência de meus pensamentos;
parece que meio minuto depois,
perdeu a validade.
Qual é o teu tempo?
O pé na frente, o futuro?
O meu, nem presente é mais:
quero o tudo num segundo -
o é na mais pura essência;
quem sabe estou noutro mundo?
A cada final de semana,
parece que passou o mês.
de tantas coisas que fiz -
já o tempo, se arrastou
lento demais.
E ficas aí decidindo,
se queres estar nos meus braços;
eu, já decidi isso faz tempo:
daqui a pouco
nem vale mais...
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Breve
Ainda aguardo que me fales:
vagas promessas,
mas nunca escreves
apenas recebo um breve...
Breve nos encontraremos.
Ínfima
partícula fiquei
diluída no teu silêncio:
Escrevi demais
vai ver,
foi somente para esconder
o que não tive
coragem de dizer.
Agora silencio eu também
teu silêncio desconcertou meu poema
e como subtraio esse tema
Se já te somei a mim?
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Abissal
O vinho tinto, seco e forte
desceu líquido,
pela garganta quente:
jorrou a cântaros, sentimento sem fronteira
de alegria abrupta;
pulsante de palavras. Açambarcador.
Fictício.
Vazio teimoso da casa: silêncio abissal.
Vinho esquecido sobre a mesa,
cama feita,
cheiro do algodão lavado,
misturado ao manacá das frestas da veneziana;
nos alvos lençóis deitou o corpo
apinhado de invisíveis estrelas
longínquas,
eqüidistantes.
domingo, 19 de setembro de 2010
Enchente matinal
Nessas linhas parcas, envio
a transparência das nuvens no azul,
um pouco do ruído do oceano,
da impulsividade do vento sul:
sopro de luminosidade em palavras,
que me invadiu, incandesceu...
Nessa enchente matinal,
traduzo a solidão da pedra,
com leveza de avencas do quintal;
e num gesto puro,
envio este texto sem forma,
amostra de imediato querer:
tou com vontade de te ver!
Aquarela: Nascimento de uma estrela
sábado, 18 de setembro de 2010
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Biscoito da Sorte
Prospecto de tempo emocionante
à frente – vale acreditar.
sabor de amora silvestre aquecida ao sol da manhã,
cataplasma de estrelário,
fictício talismã.
Frescor da boca da noite,
úmida grama; exala do canteiro, o cheiro do manacá,
jasmim.
Chuva de estrelas no céu, Vênus,
vislumbre de completude,
búzios, I ching.
Enigmática conspiração dos deuses,
intrínseca constatação.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010

De nuvem
Avassala a voz do penhasco, caixa de palavras
da tua voz incrustada no silêncio
a tamborilar nos meus ouvidos;
tempo nada,
desejo sem dono que habita,
palpita, som e areia.
Fugidia vida escorrendo, sopro de tule,
ao vento, sementes de dente-de-leão.
Abocanho palavras: te guardo inteiro, em pedaços,
intenso, fugidio,
despedaçado mosaico: enigma.
Textura do rochedo tateio,
tatuagem de melancolia.
Te guardo. Fechado: casulo.
Prazer e atrito, aberto,
incomensurável.
Que finca na retina, a voz, sorriso, presença
num tempo sem horas, resíduos tateio,
- canção imantada, gravada, intensa.
Inundada de anseios, vislumbro percursos;
desejo sem dono, sopro.
Quase nada.
Respiro resíduos...
Marlene Edir Severino
Porque não penso em nada
Colher de prata,
Dançam em minha cabeça
Feito águas-vivas num rosnar torpor.
Antes, denso e negro,
Agora, gris;
Sutil geometria
Que encalha embarcações no mar.
Volta ao mundo, lodo acústico
Enroscar de palavras, duplos sentidos,
Madressilvas no lavabo.
Ata saudável véu,
Nenhum estilo,
Estufa de ausência!
marlene edir severino
domingo, 29 de agosto de 2010
Vaso de Pervincas
Furtivo – em plena luz do dia;
Mas já estava escuro.
Olhei o céu – vício de estrelas molhadas,
Cassiopéia,
Faísca de estrela cadente,
Senti tua falta. Sonoro silêncio,
Imenso, feito areal.
Restou o vaso de pervincas.
A cama feita, de fino pano arcaico. Safira.
Chamei-te em vão.
Tossir doeu a garganta.
Ficou o salmão, caranguejo, a mesa posta.
Vesti a coroa de espinhos da tua falta. Língua bárbara.
marlene edir severino
O que é o amor?
Coroas de branca espuma,
Poço que cintila,
Sumidiça cousa a pungir,
Embaça o ruído do oceano dentro do peito,
Delicado acorde, aroma de mil flores,
Ora temporal, ora suave sopro
Que decanta em luminosidade,
Açude de açucenas,
Disfarce de leões marinhos
A rede vertebral que aurifica tolos,
Luminosidade,
Puro poema.
Neblina vivificante
Aroma do paraíso!
marlene edir severino
Shiva
Aguaceiro, cheiro de terra molhada,
Céu arenoso, trovoada, som de canhões,
Escuro feito breu, prenúncio de tufão,
Pedido de socorro, barulho na escotilha - náufrago
Cheiro de tabaco, incenso, é shiva no banho de chuva;
Desceu do jardim de camaleões.
marlene edir severino
Trevo de Quatro Folhas
Jarro d’água, sorte ininterrupta.
marlene edir severino
Azulejo Quebrado
resultaram alguns poemas...
Diante do azulejo quebrado do casarão a beira-mar
O pensamento desce rápido feito aguaceiro,
Em cântaros, nas cinzas das horas,
A verter doces lembranças.
A luz que se abre ao fundo e espalha-se pelo quarto,
Traz o vento perfumado de flor da laranjeira -
Suave , pensamento certeiro feito flecha,
Atinge o alvo num vendaval de imagens.
O tempo deixou de contar naquele instante,
Quarto na penumbra, a “ la media luz “ ,
Corpos colados numa dança louca,
Roupas atiradas, leque branco, imagens guardadas
incólumes, como se guarda em ânfora –
sal do paraíso, casarão a beira-mar.
marlene edir severino
domingo, 27 de junho de 2010
Trabalhos publicados na Câmara Brasileira de Jovens Escritores - CBJE
Contos
Além da Imaginação, Março de 2010, com "Sapatos" - Março de 2010
Amor & Desamor, Abril de 2010, com "Meio Século" - Abril de 2010
Contos de Outono,Maio de 2010, com "Insetos" - Maio de 2010
Poemas
Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, livro 62, -"Como a Esfinge" - Março de 2010
Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, livro 63, - "Além do Quintal" - Abril de 2010
Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, livro 64, - "Secreto Desejo" - Maio de 2010
Os mais belos Poemas de Amor, com "Sem Horas" a ser publicado em 10 Junho de 2010
Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea, com "Você", a ser publicado em 10 Julho de 2010
sábado, 5 de junho de 2010
Secreto Desejo

Sem o som de nossas vozes
tudo parece ainda mais secreto
e cúmplice quando conversamos.
Deixamos as horas escorrerem
entre nossos dedos
saboreando a libido
exalada de cada palavra teclada,
de cada desejo tornado palavra.
É como se pudéssemos sentir
nossas peles se tocando,
frenesi de pernas roçando,
o calor de nossas mãos tateando
na mútua descoberta de nossos corpos;
como se conseguíssemos ouvir
o som entrecortado de respirações ofegantes,
descompassadas,
taquicardia,
palpitação...
Entramos um no outro
e nos pertencemos a distância
numa voluptuosa sintonia de palavras
algumas sugeridas,
outras, apenas imaginadas,
secretamente desejadas...
Marlene Edir Severino
Publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - CBJE,
livro 64,maio/2010
... um conto
MEIO SÉCULO
Acordou cedo como de costume e correu para a frente do espelho, pensando enquanto olhava criteriosamente cada centímetro do rosto: cinquenta anos! Que susto. Meio século. Tinha que se sentir feliz, afinal estava de aniversário. Tem quem morra antes. Em vão tentava se convencer.
Enquanto fazia café e o bebia, mastigando o pão integral com banana assada no microondas, Helena planejava mil coisas para o dia, que imaginara especial. Sempre valorizou muito o dia do seu aniversário. Quando ainda estava na ativa, numa rotina sem atrativos e já contando os anos finais para a aposentadoria proporcional e antecipada, preferia faltar ao trabalho nesse dia e reservá-lo somente para si. Fazer coisas prazerosas sem preocupação com o tempo: horário de voltar, ir nadar, comprar camarão no mercado, um sapato interessante da vitrine da loja, o que desse na “telha” sem nenhuma pressa. Fazer sua comida preferida – e todas as suas vontades, enfim. Viver cada minuto, sorvê-lo, fazê-lo durar em prazeres.
As coisas haviam mudado desde a aposentadoria. De início foi um vislumbre. Liberdade. Tempo para tudo que quisesse – até para não fazer coisa alguma. Recolhimento, solidão opcional. Escolhida. Era uma sensação de completude, sem qualquer neura com idade.
Que raio de sentimento era esse afinal, que pela primeira vez lhe deixava sem qualquer desejo de ficar contente no seu aniversário? E sem nenhuma vontade por mais atrativa que fosse a idéia, para festejá-lo a seu modo?
A sensação era densa. Um peso sobre os ombros, mas insistiu na tentativa de animar-se com a data.
Fez planos mirabolantes. Imaginou telefonar para algumas pessoas; com algumas anteviu o transcorrer do dia e não lhe atraiu. Mentalmente deu-se conta da previsibilidade de tudo. Desistiu dos telefonemas. Com outras, deu-se conta a tempo da estupidez do ato e abortou todas as tentativas. Definitivamente.
Pensou em fugir de casa e riu da idéia, lembrando-se de remoto desejo em tempos passados, vivenciando um casamento desgastado pela rotina. Mas eram outros tempos agora, Helena!
Um SPA, quem sabe? Passar o dia todo lá e não ter que receber pessoas que não desejava ver nesse dia: receber felicitações, ter que providenciar um bolo, que nem comeria, refrigerantes, que nem beberia, ganhar presentes, que provavelmente nem usaria. Livrou-se rapidamente desses pensamentos.
O telefone começou a tocar e decidiu tirá-lo da tomada. A idéia do SPA voltou a tamborilar em sua cabeça. Mas ficar lá sozinha? Solidão era tudo o que já possuía. De sobra.
Pensou em Humberto e sem racionalizar muito, pois desse modo acabaria não fazendo, sentou-se ao computador e mandou-lhe uma mensagem, sondando o terreno, querendo saber como estava, como andava seu humor, se seus problemas na empresa se resolviam e coisas assim.
Seu humor continuava ácido. A resposta econômica de palavras logo lhe deu a certeza que as coisas não andavam muito bem. Os homens ficam assexuados quando têm problemas financeiros.
A tarde já findava quando se deu conta de que nada fizera de prazeroso. O tempo transcorreu na tentativa de tornar melhor o seu aniversário. O sentimento de peso continuava. Mas o que pesava mesmo era a sensação de insignificância. Já estava se achando a pessoa menos importante do universo. Passaria facilmente pela fresta debaixo da porta, iluminada agora pelos parcos raios solares do dia que estava a findar.
Melhor tomar uma ducha, sempre lhe deixava melhor.
Olhou-se no espelho enquanto secava o corpo, dando-se conta de que apesar da vida saudável que procurava ter, seu corpo já não tinha viço. O sentimento de que havia se tornado transparente aos olhos dos homens era uma triste constatação, agora também refletida no espelho, para que nenhuma dúvida disso pairasse.
Tentou um último gesto ainda, no desespero de salvar o dia, ou o significado da data. Derradeira insensatez: mandou uma última mensagem, teclada na esperança de poupar a noite de seu aniversário, pelo menos, sugerindo sutilmente um jantar, a dois, regado a um bom vinho. Preferiu não fazer menção ao aniversário e ficou aguardando. Desistiu dos outros planos e focou a atenção no visor do computador que inexorável lhe informava que não havia mensagem na sua caixa de entrada. Zero mensagem.
O resto do dia arrastou-se sofregamente.
Antes mesmo que a noite chegasse colocou os gatos para dentro de casa, alimentou-os. Fechou todas as janelas.
Ficou tudo cinzento, a hora do lusco-fusco, como dizem. Sentia-se igualmente cinza por dentro. Preferiu não ver escurecer, melhor ficar com o gris.
Desligou o computador. Enfiou-se debaixo das cobertas e foi dormir.
Malene Edir Severino
Publicado pela CBJE, contos selecionados Amor & Desamor e está entre
os mais acessados do site.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Como a Esfinge
Descreva-me
sob tua ótica,
quero me descobrir
no teu olhar,
saber o que vês
quando me olhas,
o que interpretas de mim
quando me dissecas.
Decifra-me
ou devoro-te!
Nesse instante,
quero
contigo me sintonizar,
entrar na tua frequência,
te captar,
te capturar e
somente depois disso
e com muita calma,
te devorar!
quarta-feira, 12 de maio de 2010
... sobre o tema
no intrínseco quintal ,