Seja Bem-Vindo

Seja Bem-Vindo

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Âmbar





Imperfeita como tarde de domingo:
na palidez da névoa, revoam gaivotas
feito um ritual sobre esverdeada onda,
que traz no dorso, apressado galho de árvore

e quebra num estrondo sobre a pedra
ocre em mil respingos.
Um navio se afasta e desaparece no horizonte,
e teus dedos de pedra a segurarem meu braço.

Entre a areia, mares, outras margens,
trazida pelo vento o eco da tua voz
calou nas pedras: visão da tua sombra, as redes

balançam na água barrenta
da maré cheia
âmbar da tua voz.

(Imagem: Praia Brava, fotografia de Marlene Edir Severino)
Maio, 22 de 2011

sábado, 21 de maio de 2011

De Anis




Pêssego da pele:
roça tua boca,
palato de anis.
Imprópria tua língua

atenta me tenta
liquefeita,
atritam meus pelos
o roçar do teu corpo

no meu: fisgas de agulhas
de prata,
arrepio de lâmina.

Dança
na cama,
o branco lençol.


(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Maio, 21 de 2011

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Oca





Oca cisterna, vazia,
sobre a mesa o búzio oco olhei
feito pedra imóvel, tristeza de montanha
inflexível como o inferno,

senti o frio da tua língua,
o roçar dos teus dentes,
céu da boca, névoa e tintas
sobre azul-marinho do céu.

A noite esqueceu a cigarra,
seca casca
no tronco descascado da goiabeira.

Passeio do risco no céu azul
nesta noite oca:
apenas um traço que passeia.


(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Maio, 13 de 2011

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Devo Morar no Silêncio






Algas secas no cascalho,
na areia, lavam com as ondas
o sal e o cântaro, o mel e a flauta:
teu cheiro chega com o vendaval, a pedra do peixe.

Meu sopro à beira do vulcão,
mas não posso ir mais fundo do que já me encontro.
Chove chuva na caixa de vidro.
Vislumbro tua sombra na vidraça,

embaça: sombra de tua sombra,
como mantras de Aruanda,
um traço azul, aquele fino traço:

mensagem na garrafa atirada ao mar
soa como gongo embalado no movimento das ondas.
A música lava, mas continuo aqui: devo morar no silêncio

quinta-feira, 5 de maio de 2011





Marlene.
Quem quiser adquirir meu livro de poemas e aquarelas: "Além do quintal", entre em contato através do e-mail:
leneseverino@hotmail.com

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ruído na Vidraça





Até tenho tentado
transcender esse silêncio,
sobra do espaço
que escondes sem dizer.

Nas tintas que acolhem a espera
em que busco teu abraço,
sorvo palavras,
uma a uma
da tua muda fala,

fico a querer interpretar
nesse vazio de som,
aquelas
ocultas nas tuas metáforas

e sonho
com tua contradição,
teu confuso medo
difuso.

Sonâmbula,
livro-me da memória,
quero olhar sem pensar,
transcender tua fala
que duplamente cala
agora.
Ouço um ruído na vidraça:

apenas um inseto
e treme:
esfacelou a asa.


(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Maio, 01 de 2011