Seja Bem-Vindo

Seja Bem-Vindo

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Do Vento





Do Vento

Pálido frio, ferrugem de final de tarde,
sibilar do vento nas curvas dos morros
emudeceu nos telhados de argila,
áspero, cortante,

dorso de iguana,
invade janelas da casa transparente:
antena de inseto, rodopio de folhas, latido de cães,
passos anônimos pelas ruas.

Depois, silêncio a calar bocas.
Lampejos de luz enviesada
a entremear folhas

opacas, soltas no chão.
Pigmentos de uma presença,
borrão no papel.


(Imagem: óleo de Marlene Edir Severino)
Junho, 29 de 2011

sábado, 18 de junho de 2011

Solitária Viagem




Atrás de tantos nomes
em algum lugar habitas
anônimo
em emaranhados de arames,
entrelaçadas palavras, pseudônimo:
sombras, espelhos,
busca de sinônimos,
trânsito de viajante, idas e vindas,

solitária viagem:
atravessam o veludo gasto
dos joelhos das calças
todas as lanças do vento,
que sibila cortante e doce
na cortina de contas a esmo
da mensagem. Doçura de olhar escoltado.
Escudos, escafandros.

O silêncio recompõe a pele,
ilhas perdidas de um olhar no meio do oceano,
indeciso, quase sorriso dos lábios
trava a língua. De mármore
é o contorno da tua boca

que silencia, não alivia do limbo:
cheiro de vida num papel de embrulho.

(Imagem: Óleo de Marlene Edir Severino)
Junho, 18 de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

Canção Que Fala de Pássaros






Improviso.
E chegas sem aviso
entre papéis,
frases soltas,
abismos.
A quilômetros de distância.

Moro no país da solidão.

Insone, escrevo versos
apodrecidos
quase secretos:
visualizo teu rosto,
agora teu corpo

e novamente esqueço
o café inacabado na xícara
em algum cômodo da casa
esquecida de mim. Ouvi a canção
que me fez lembrar-te.

Adormeci nos teus braços
entre conchas e a espuma do mar.

Despertei só.


(Imagem: Fotografia do quintal, de Marlene Edir Severino)
Junho, 6 de 2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Brincos Quebrados




" Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. " Clarice Lispector



De uma margem a outra,
hesitantes palavras sopradas ao vento.
Fermenta.
O pão fermenta antes de assar.
Nesse constrangedor silêncio feito senha,
busco a senha que adentra,

raiz na terra, coordenadas, qualquer guia,
indicação da estrada, caminhos que se sobrepõem,
reinventam o dia em contraditórias imperfeições
do livro sobre a mesa,
travessia, labirinto

de tatuadas palavras: grafadas chamas,
indeciso desejo, distâncias de tato,
mãos vazias, suspiros sem som. Entrecortados.
Nesgas, migalhas.

Quero o doce da flauta,
roupas com cheiro de sol. Prazer de fome saciada.

Viagem nas metáforas, águas tantas,
mero mergulho em fragmentos, sem bilhete,
clandestina viagem, olhos fechados.
Passagem.

Escrevo.

Brincos quebrados.


(Imagem: Óleo de Marlene Edir Severino)
Junho, 01 de 2011