Seja Bem-Vindo

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domingo, 27 de junho de 2010

Trabalhos publicados na Câmara Brasileira de Jovens Escritores - CBJE



Contos

Além da Imaginação, Março de 2010, com "Sapatos" - Março de 2010

Amor & Desamor, Abril de 2010, com "Meio Século" - Abril de 2010

Contos de Outono,Maio de 2010, com "Insetos" - Maio de 2010




Poemas

Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, livro 62, -"Como a Esfinge" - Março de 2010

Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, livro 63, - "Além do Quintal" - Abril de 2010

Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, livro 64, - "Secreto Desejo" - Maio de 2010

Os mais belos Poemas de Amor, com "Sem Horas" a ser publicado em 10 Junho de 2010

Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea, com "Você", a ser publicado em 10 Julho de 2010


sábado, 5 de junho de 2010

Secreto Desejo







Sem o som de nossas vozes
tudo parece ainda mais secreto
e cúmplice quando conversamos.

Deixamos as horas escorrerem
entre nossos dedos
saboreando a libido
exalada de cada palavra teclada,
de cada desejo tornado palavra.

É como se pudéssemos sentir
nossas peles se tocando,
frenesi de pernas roçando,
o calor de nossas mãos tateando
na mútua descoberta de nossos corpos;
como se conseguíssemos ouvir
o som entrecortado de respirações ofegantes,
descompassadas,

taquicardia,
palpitação...

Entramos um no outro
e nos pertencemos a distância
numa voluptuosa sintonia de palavras
algumas sugeridas,
outras, apenas imaginadas,
secretamente desejadas...



Marlene Edir Severino
Publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - CBJE,
livro 64,maio/2010

... um conto


MEIO SÉCULO


Acordou cedo como de costume e correu para a frente do espelho, pensando enquanto olhava criteriosamente cada centímetro do rosto: cinquenta anos! Que susto. Meio século. Tinha que se sentir feliz, afinal estava de aniversário. Tem quem morra antes. Em vão tentava se convencer.
Enquanto fazia café e o bebia, mastigando o pão integral com banana assada no microondas, Helena planejava mil coisas para o dia, que imaginara especial. Sempre valorizou muito o dia do seu aniversário. Quando ainda estava na ativa, numa rotina sem atrativos e já contando os anos finais para a aposentadoria proporcional e antecipada, preferia faltar ao trabalho nesse dia e reservá-lo somente para si. Fazer coisas prazerosas sem preocupação com o tempo: horário de voltar, ir nadar, comprar camarão no mercado, um sapato interessante da vitrine da loja, o que desse na “telha” sem nenhuma pressa. Fazer sua comida preferida – e todas as suas vontades, enfim. Viver cada minuto, sorvê-lo, fazê-lo durar em prazeres.
As coisas haviam mudado desde a aposentadoria. De início foi um vislumbre. Liberdade. Tempo para tudo que quisesse – até para não fazer coisa alguma. Recolhimento, solidão opcional. Escolhida. Era uma sensação de completude, sem qualquer neura com idade.
Que raio de sentimento era esse afinal, que pela primeira vez lhe deixava sem qualquer desejo de ficar contente no seu aniversário? E sem nenhuma vontade por mais atrativa que fosse a idéia, para festejá-lo a seu modo?
A sensação era densa. Um peso sobre os ombros, mas insistiu na tentativa de animar-se com a data.
Fez planos mirabolantes. Imaginou telefonar para algumas pessoas; com algumas anteviu o transcorrer do dia e não lhe atraiu. Mentalmente deu-se conta da previsibilidade de tudo. Desistiu dos telefonemas. Com outras, deu-se conta a tempo da estupidez do ato e abortou todas as tentativas. Definitivamente.
Pensou em fugir de casa e riu da idéia, lembrando-se de remoto desejo em tempos passados, vivenciando um casamento desgastado pela rotina. Mas eram outros tempos agora, Helena!
Um SPA, quem sabe? Passar o dia todo lá e não ter que receber pessoas que não desejava ver nesse dia: receber felicitações, ter que providenciar um bolo, que nem comeria, refrigerantes, que nem beberia, ganhar presentes, que provavelmente nem usaria. Livrou-se rapidamente desses pensamentos.
O telefone começou a tocar e decidiu tirá-lo da tomada. A idéia do SPA voltou a tamborilar em sua cabeça. Mas ficar lá sozinha? Solidão era tudo o que já possuía. De sobra.
Pensou em Humberto e sem racionalizar muito, pois desse modo acabaria não fazendo, sentou-se ao computador e mandou-lhe uma mensagem, sondando o terreno, querendo saber como estava, como andava seu humor, se seus problemas na empresa se resolviam e coisas assim.
Seu humor continuava ácido. A resposta econômica de palavras logo lhe deu a certeza que as coisas não andavam muito bem. Os homens ficam assexuados quando têm problemas financeiros.
A tarde já findava quando se deu conta de que nada fizera de prazeroso. O tempo transcorreu na tentativa de tornar melhor o seu aniversário. O sentimento de peso continuava. Mas o que pesava mesmo era a sensação de insignificância. Já estava se achando a pessoa menos importante do universo. Passaria facilmente pela fresta debaixo da porta, iluminada agora pelos parcos raios solares do dia que estava a findar.
Melhor tomar uma ducha, sempre lhe deixava melhor.
Olhou-se no espelho enquanto secava o corpo, dando-se conta de que apesar da vida saudável que procurava ter, seu corpo já não tinha viço. O sentimento de que havia se tornado transparente aos olhos dos homens era uma triste constatação, agora também refletida no espelho, para que nenhuma dúvida disso pairasse.
Tentou um último gesto ainda, no desespero de salvar o dia, ou o significado da data. Derradeira insensatez: mandou uma última mensagem, teclada na esperança de poupar a noite de seu aniversário, pelo menos, sugerindo sutilmente um jantar, a dois, regado a um bom vinho. Preferiu não fazer menção ao aniversário e ficou aguardando. Desistiu dos outros planos e focou a atenção no visor do computador que inexorável lhe informava que não havia mensagem na sua caixa de entrada. Zero mensagem.
O resto do dia arrastou-se sofregamente.
Antes mesmo que a noite chegasse colocou os gatos para dentro de casa, alimentou-os. Fechou todas as janelas.
Ficou tudo cinzento, a hora do lusco-fusco, como dizem. Sentia-se igualmente cinza por dentro. Preferiu não ver escurecer, melhor ficar com o gris.
Desligou o computador. Enfiou-se debaixo das cobertas e foi dormir.



Malene Edir Severino

Publicado pela CBJE, contos selecionados Amor & Desamor e está entre
os mais acessados do site.


sexta-feira, 4 de junho de 2010

Como a Esfinge


Descreva-me
sob tua ótica,
quero me descobrir
no teu olhar,
saber o que vês
quando me olhas,
o que interpretas de mim
quando me dissecas.

Decifra-me
ou devoro-te!

Nesse instante,
quero
contigo me sintonizar,
entrar na tua frequência,
te captar,
te capturar e
somente depois disso
e com muita calma,

te devorar!