Seja Bem-Vindo

Seja Bem-Vindo

domingo, 29 de agosto de 2010

Vaso de Pervincas

Véspera de nosso encontro.
Furtivo – em plena luz do dia;
Mas já estava escuro.
Olhei o céu – vício de estrelas molhadas,
Cassiopéia,
Faísca de estrela cadente,
Senti tua falta. Sonoro silêncio,
Imenso, feito areal.
Restou o vaso de pervincas.
A cama feita, de fino pano arcaico. Safira.
Chamei-te em vão.
Tossir doeu a garganta.

Ficou o salmão, caranguejo, a mesa posta.
Vesti a coroa de espinhos da tua falta. Língua bárbara.



marlene edir severino
Amor

O que é o amor?


Coroas de branca espuma,
Poço que cintila,
Sumidiça cousa a pungir,
Embaça o ruído do oceano dentro do peito,
Delicado acorde, aroma de mil flores,
Ora temporal, ora suave sopro
Que decanta em luminosidade,
Açude de açucenas,
Disfarce de leões marinhos
A rede vertebral que aurifica tolos,
Luminosidade,
Puro poema.


Neblina vivificante
Aroma do paraíso!



marlene edir severino

Shiva

Quando o vento fabrica o bambu ...


Aguaceiro, cheiro de terra molhada,
Céu arenoso, trovoada, som de canhões,
Escuro feito breu, prenúncio de tufão,
Pedido de socorro, barulho na escotilha - náufrago
Cheiro de tabaco, incenso, é shiva no banho de chuva;

Desceu do jardim de camaleões.

marlene edir severino

Estrato-cúmulo



Quando é que a água sabe que é molhada?


Nuvens no azul do céu,
Crepom e linho cru
Estranheza nítida de metáfora.

Azuláceo firmamento, cândido.
Paço líquido
Lívida, procura úmido refúgio

Pranto de torpor a tatuar o véu...

Marlene Edir Severino

Trevo de Quatro Folhas

O som do jazz acústico, íntimo som, soou fresco -
Jarro d’água, sorte ininterrupta.

marlene edir severino

Azulejo Quebrado

Da Oficina da Palavra Selvagem de Fernando José Karl realizada de 23 a 27 de agosto no SESC,



resultaram alguns poemas...


Diante do azulejo quebrado do casarão a beira-mar
O pensamento desce rápido feito aguaceiro,
Em cântaros, nas cinzas das horas,
A verter doces lembranças.

A luz que se abre ao fundo e espalha-se pelo quarto,
Traz o vento perfumado de flor da laranjeira -
Suave , pensamento certeiro feito flecha,
Atinge o alvo num vendaval de imagens.

O tempo deixou de contar naquele instante,
Quarto na penumbra, a “ la media luz “ ,
Corpos colados numa dança louca,

Roupas atiradas, leque branco, imagens guardadas
incólumes, como se guarda em ânfora –
sal do paraíso, casarão a beira-mar.

marlene edir severino