Seja Bem-Vindo

Seja Bem-Vindo

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sombras das Nuvens





Já não te falo mais do que me emudece,
de tênues, imperfeitas alegrias,
menos ainda de uma ou outra insignificância
que em algum momento me entristece:
conheço as dobras da tua armadura,

então transito imperceptível no silêncio,
vagueio por espaços com cheiro de abandono,
alguns passos sem rumo de abafados sonhos
transparente rascunho,
poema que não se concretizou

e tantas perguntas sem resposta,
agigantam-se, indecifráveis, ficam
imensas, tanta palavra sem som,
cor sem aquarela,

de vez em quando uma ou outra nuvem
desaba numa chuva, encharca a rua,
escorre pela calçada e pássaros fogem,

respingam lembranças, ecos abafados
habitam o silêncio, sombras das nuvens
turvam vez ou outra o azul do céu.


(Imagem: Fotografia do céu visto do quintal)
Agosto, 29 de 2011

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Janela de Dentro




A janela se abre para o quintal
através da cortina de névoa
que recobre a manhã,
encobre sonhos.

Chama-me o vazio,
invisível lado da janela de dentro,
cheira a abandono de provisórias cores,
imperfeitos cheiros, um nome em branco,
imagem ausente,
volta tanto, sempre aceso rastro
como se não tivesse ido.

Contida palavra: tristezas imediatas,
antigas insignificâncias nesta manhã de bruma
que confunde tudo
e deixa coisas fora do lugar.

Troco de roupa para aquecer o corpo,
ensaio o sorriso do rosto na frente do espelho,
distraio a solidão.

Experimento novas tintas, reparto meu silêncio:
desenho teu contorno, tua pele,
tua forma decorativa

amassada no papel.

(Imagem: óleo de Marlene Edir Severino)
Agosto, 15 de 2011

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Dias Cinzentos




O frio do piso da sala gela os pés
dentro dos chinelos surrados,
transpassa o veludo gasto da calça
e paralisa a fala.

Nem muito que falar do cinza:
um pouco de branco na paleta, abundante preto,
uma pitada de azul de céu
do mês de Abril.

A chuva de tantos dias
deixa mais verde o limo das pedras
no quintal, a umidade cala,
lentas horas, esquecido bilhete de viagem

na gaveta como alento,
lapso de tempo,
nem transcorreu, tão lento,
esquecido na névoa da manhã
a se estender pelo dia

em dias cinzentos:
amanhece e anoitece gris.

(Imagem: Praia Brava, fotografia de Marlene Edir Severino)
Agosto, 01 de 2011