Seja Bem-Vindo

Seja Bem-Vindo

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Olhar de Vento





Mal amanhece

E o vento
já balança
os galhos
da goiabeira

Caem num arremesso
misturadas flores folhas
frutos da laranjeira
forram o chão do quintal


Embaraça
em nova trama
franja da manta

esquecida

no varal


Dezembro, 13 de 2012
Fotografia, Marlene Edir Severino

domingo, 2 de dezembro de 2012

Aos domingos



Antigas
dores
desembocam
sempre
aos domingos

E o vento
lamentoso
que tem soprado
em nada
ajuda

Chora

Dezembro, 02 de 2012

Fotografia, marlene edir

domingo, 4 de novembro de 2012

Biscoito da sorte - Reeditado




Biscoito da Sorte


Prospecto de tempo emocionante
à frente – vale acreditar.
Sabor de amora silvestre aquecida ao sol da manhã,
cataplasma de estrelário
fictício talismã.

Frescor da boca da noite,
úmida grama,
exala do canteiro cheiro de manacá,
jasmim.

Chuva de estrelas no céu, Vênus,
vislumbre de completude.
Búzios, I Ching.

Enigmática conspiração dos deuses,
intrínseca constatação.

Aquarela de Marlene
(junho/2011)

terça-feira, 16 de outubro de 2012





Pedra de Rio


Pedra de rio
vidro tosco, transparente
serpenteia a água a seu redor
e entre as folhas
clandestina e densa,
ora luminescente,
na fixidez do sol,
ora vastidão de sombras,
imobilidade do visgo,
incrustada de ocultos silêncios
tangentes, vazantes.
Pedra sem rio
     jorro de tristeza
     de rio a desaguar.
                                                                                     

Outubro, 16 de 2012

Imagem, óleo sobre tela de Marlene Edir Severino
Publicado no Além do Quintal, Janeiro de 2011

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Dos fantasmas




Indago
Respondo
Na madrugada
questionam todos os fantasmas da casa
Argumento
nas entrelinhas reescrevo o diálogo

Então chegas às lufadas
físico
transparente
invades corredores
quase sorris
num ponto imaginário a minha frente
Ausente
em todos os aposentos
presente
tanta distância

Somes
na lua crescente
perdida estrela encoberta pelas nuvens


 Fotografia de Marlene Edir
Julho, 30 de 2012


sábado, 25 de agosto de 2012

Lápis-lazúli





Pendente no pescoço
o coração
pingente de lápis-lazúli
que me deu

A tarde se prende num fio invisível

Desprendo-me do teu sorriso
livro-me dos poemas
sem pena
a tarde se foi

Conservo o coração
em azul escuro
de lápis-lazúli

a noite se fez


Julho, 28 de 2011

Publicado no Céu de Abril em julho/2011
Fotografia de Marlene Edir Severino


quarta-feira, 15 de agosto de 2012

De um novo silêncio





Marcas de antigo armário
na parede do quarto
oxidadas molduras
de porta-retratos

vazias
estáticas permanecem
nada dizem
em consonância com todas as coisas

na casa
novos silêncios nascem
a todo instante


Agosto, 14 de 2012
Fotografia, Marlene Edir

domingo, 12 de agosto de 2012

Maneca




Podei a uva:
singela homenagem
pra Manoel
de dedo verde,

encardidos dedos
de esburacar a terra
para a semente.

Um homem forte,
rústico, doce e corajoso
e tinha medo atroz
do instante da morte.

(Mas quem não teme?)


Fotografia da Marlene Edir 
Agosto, 12 de 2012

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Esboço na Areia





Há coisas que demoram,
fincam âncora,
leva um tempo até partir:

a maré avança,
lava as rochas,
um leva e traz de cacos de conchas,

cava na areia um poço,
mas do desenho apagado

fica o esboço.

Outubro, 22 de 2011

Publicado no Céu de Abril, em Outubro de 2011
Fotografia, Sidarta


terça-feira, 10 de julho de 2012

Um olhar na manhã




É pouco o movimento,
tão cedo,
o dia mal começa
poucos veículos trafegam,
pedestres sem pressa

e o cheiro de relva no ar,
exala frescor,
promessa.

No caminho de saliências, reentrâncias,
velha árvore expõe a raiz,
desvia o trajeto.
Tantas folhas se acumulam
esquecidas pelo vento nos rebaixos,
na ondulação da calçada,
na pedra que se destaca,
mesmo sendo tão igual.

Incógnito dia nessa manhã:
até no vento,
vagos desenhos no céu
quando sopra nuvens,
no meu olhar distante
ao traço que separa o céu do oceano.

Ficou mais longe hoje
o horizonte?



Maio, 08 de 2012
Fotografia, Sidarta


sábado, 7 de julho de 2012



Uma Leitura da Carta de Marear

"Para a Marlene Severino, muito em especial, "
- na voz do poeta Leonardo B. -  belíssima homenagem na barca dos amantes - http://www.abarcadosamantes.blogspot.com/

Grata, muito ... Emocionada!
Abraço, abraço "imenso", poeta!

Quase Segredo






Depois que sai do banho
ainda envolta
na toalha
caminha até o espelho
do quarto de vestir

Fica a olhar as próprias curvas
agora desacostumadas
à carícias

a traduzir
o avesso

reverso
do que fala

Então se cala e veste-se

E guarda sob a veste
o que não despe

Escreve

E finge
que não lhe pertence


Julho, 07 de 2012
Imagem, "Brincando com as Linhas"  de Ademar Will



segunda-feira, 25 de junho de 2012

Do vento que sopra nessas tardes





Tão grande esse vazio
o vento costuma soprar forte
pelas tardes
trazendo frio
transpassa
trançado fio da blusa

Preenche o silêncio
o som do vento
mas não me traz
qualquer palavra nova

Recolho a mesa do café
deixo cadeiras fora do lugar
disfarce
de espaço abandonado

presente a respiração
tambor que pulsa
engulo a saliva
aperto as palavras

A tarde acaba


Fotografia de Marlene Edir
Junho, 25 de 2012

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Da estrela



                                                                   “Eu ando sozinha
                                                                    ao longo da noite.
                                                                    Mas a estrela é minha”.
                                                                     Cecília Meireles







Com o brilho de Sírius, imenso,
e tão solitária,
a nem tão luminosa, Mirfak,
quem sabe a gigante Arcturus,
ou Canopus, Prócion,
a de luz azulada
que vibra suave, (quase mantra)
quando pronunciada:
Adhara,

sei pouco de astros,
grandeza ou brilho,
extasiada,
fico a indagar...

Que nome a estrela terá?

Será a distante Alnilan?
ou Átria,
a múltipla Polaris, ao norte,
ou a do poema,
Aldebaran...
São tantos os nomes e tantas estrelas,
planetas, constelações,
num céu tão imenso!

Qual a sua localização?

Visível, na ausência de nuvens,
Cintila (nalgum lugar),
e basta-me:

tenho uma estrela!

Fotografia, aquarela de Marlene Edir Severino
Junho, 1 de 2012

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Evasivo Cinza





Azuis acinzentadas as nuvens no céu,
agora chove,
e o muro ao lado é  cinza escuro,
esverdeado do limo.

Negro asfalto, fumaça cinzenta
de um carro que passou,

transparente,
o vento revira no chão ocres folhas,
outras cinzas, esquálidas
pálidas,
nem mais verdes são.

É cinza a solidão? 

Fotografia, Sidarta
Maio, 16 de 2012


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Desdobrada a Hora



Aqui silêncio:
sala ilhada,
ilha,
sal.

A hora se desdobra.


Apodrecem bananas
na fruteira,
o pão é de ontem.
Venceu
o leite na geladeira.

Como seria
encontrar palavras,
adjetivar o desencanto -
afazeres,
rotina.

A vida passa
um filme:
quintal de folhas caídas

através da cortina.


(Imagem: fotografia de Marlene Edir Severino)
Abril, 12 de 2012



quinta-feira, 29 de março de 2012

Da Transparência da Cigarra Seca





Áspera estrada
de aquietar ansiedades:
nenhum desvio, qualquer atalho há
e há pouco encanto para descrever

agora, esta hora,
e aplacar olhos incendiados
da noite insone.

A beleza distante da duna
pega carona no vento,
pura areia,
lacrimeja.
Vagueia o horizonte,

vago olhar,
cigarra seca na pedra
sem limo,
transparências
de secos avessos,

casulo solto.

Pensamento confuso,
difusa palavra:
meras letras
pretas.
Emudece

em cinza.


(Imagem: fotografia de Marlene Edir Severino) 
Março, 29 de 2012

segunda-feira, 19 de março de 2012

Azul Traço




Anônima transeunte
nem marcas deixam
meus passos
pela rua
e no caminho ouço
eco de passadas
ocas
nuas no chão

Respiro silêncio
quebrado
pela minha pulsação

Nas ruas o muro alto
espreita
encontra-me sua sombra
sombrio vagar

Transporto-me neste poema
de azul traço engarrafado
atirado ao mar

( Imagem: Praia Brava, fotografia de Marlene Edir)
Publicado no Céu de Abril, em abril, 14 de 2011

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Nenhum Vento a Soprar Nuvens





Procuro ínfimos símbolos,
qualquer prenúncio
no tempo,
também o universo conspira,

nenhum vento sopra
nuvens,
nem folha cai.
Busco

em epigramas escusos
ou em qualquer epígrafe
algum indício
nos poemas teus.

Olho
o fundo da xícara,
marca deixada

do café -
obscuro sinal
a dizer-me o que não sei

traduzir.


(Imagem: Fotografia de Marlene Edir Severino)
Fevereiro, 23 de 2012

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Um Tom de Sépia




A tarde finda
pátina
vibram todos os sinos de vento
e um esqueleto de folha flutua no ar
em desalento,

bate a janela.
Azinhavre,
ferrugem.
A dobradiça emperra.

Veloz,
o vento deixa outra folha
inerte no marrom da grama.

A tarde escorre,
nem dia é mais.
Sépia na paleta.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Estrela do Norte






A fruta sobre a mesa,
o ruído da água que ferve na chaleira
(não tolero cafeteira),
o cheiro do café exala

e o sol nascendo
tinge as nuvens a leste,
mas permanece ainda no céu
a estrela matutina.

E o norte?

Tão cedo assim
é curto o pensamento
e o dia é um enigma:
resta algum silêncio da noite,

a rua mal acorda
e o apelo do café coado
ordena que se sorva o instante!


(Fotografia de Marlene Edir Severino)
Janeiro, 14 de 2012