Seja Bem-Vindo

Seja Bem-Vindo

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

De presente: fotografia de marlene edir





Mesclado de sol e chuva da manhã,
um arco-íris de presente,
a colorir o céu, a me tingir de cores,
iluminar o olhar
e encher de luminosidade este quintal...


sábado, 25 de dezembro de 2010

A lua vista do quintal: foto marlene edir


Procura

Tento distinguir teu rosto no das pessoas
que passam a meu lado, transeuntes
apressados a esbarrar
na lentidão contemplativa dessa busca,
que vislumbra no lampejo de um olhar,
um traço, sinal, não importa,
vou saber quando encontrar.

Nos finais de tarde, envolta na estranheza
das horas que se distanciam, quase param
e silenciam as coisas,
fico a ouvir o vento, me incorporo a ele
transparente, vago, atenta a sua linguagem:
um esqueleto de folha, sementes,
um cheiro, signo,
mágico como este instante,
escolhido pela nuvem para encobrir o sol.

Quando se apaga o dia
nas noites claras, em parceria
com a solidária lua, que espreita,
ainda a busca continua e fico a indagar estrelas:

“- onde encontro, em que lugar procuro?”

E a me perder nas horas, a olhar o céu
atenta a algum lampejo, indício
de impenetrável código secreto
que possa ter acesso,


às vezes me confundo,
em alguma rota desviada a vocalizar
poema, monossilábicos
vocábulos de poeta atrás de óculos,
transitória estrela, horas de distância,
nenhum pedaço do infinito,
ou pés a flutuar.

Não desisti da busca, vital, intrínseca.
Sei, estás em algum lugar distante,

(quem sabe aqui, bem perto?)
em outro tom de violeta e fúcsia de um pôr-do-sol,
além deste oceano, noutras maresias,
outros sons de chuva,
manhãs de névoa, flor de vento,

jazz,
noutro quintal.

Espero que tempo haja,
porque apenas decidi que vou te achar.


Marlene Edir Severino 25/12/2010 - 14h56



sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Dezembro


Dezembro chegou de novo.
Esperei o ano todo e agora
quero conjugar meu fogo
no imperfeito mesmo,
como somente a ele convém.

Hoje não vou escrever,
quero ir além do teclado,
quero te ver de verdade,
te olhar inteiro,
sentir teu cheiro,
te ver pulsando por mim:
iluminado.

Imprimir o calor da minha pele
roçando sobre a tua,
escrever no teu corpo,
falar com meu corpo no teu
assim
com e sem palavras...


Escrito em 10 de dezembro de 2009

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Aquarela sem título de marlene edir


Rosas de metal


Guarda para teu deleite
algum poema que te dei, uma ou outra palavra, também
tuas rosas de metal incrustadas
em ambígua canção que ofereceu,
que eu cá num ceticismo vago sempre soube,
que a mim nunca pertenceu;

apenas essas, as últimas, monossilábicas,
pronunciadas à distância,
escombros a ecoar nos meus ouvidos,
que contrário ao previsível
não me reduz, ainda que abundante

de áspera rudeza,

apenas de ti me afasta, transforma
dormidos sonhos de provisória alegria
em amálgama de despojos.

E a chuva veio agora,
a carregar o que restou do dia que o vento esqueceu lá fora,
a apagar teu nome que desnudo da garganta,
chuva ruidosa e fria sobre todas as coisas a cair,
menos gélida, porém, que tua voz que ainda ouço
distante terreno baldio de apego,
e retribuo apenas com silêncio e já é muito;

bem-vinda, solidão!

Terça feira, 21 de dezembro de 2010
21h05


sábado, 18 de dezembro de 2010

Iluminado: Aquarela de marlene edir


Chegas feito relâmpago,

risco iluminado no céu

a incendiar-me!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Flor azul: aquarela de marlene edir



Sopro


Respiro o silêncio da casa

e seus ruídos de ocultos silêncios,
silencioso sopro de coisas mudas,
vozes distantes de cômodos vazios,
sopro de vazio,

sopro de luz nos olhos quando escrevo.

Perco-me,
perco o poema,
me perco no poema.

Olho pela janela:
há um quintal lá fora.

Apenas estas palavras são verdadeiras.

Marlene
dezembro, 14

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Hortênsias do quintal: foto marlene edir





Insone


Em passos sigilosos pelos cômodos da casa,
quero tragar a noite
que se desnuda
imensa,
bagagem soturna de silêncio.

Sonâmbula,
bebo tua ausência
de teu hálito inebriada,
teu cheiro em minha pele
tatuado.

O vento sussurra teu nome
lá fora,
tênue resposta, transparência
fragmentada
a me confundir.

Imersa
no silenciar dos objetos,
escondo metáforas,
insone,
atrás destas palavras.

Itajaí, 12/dezembro/2010

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Estrelas



O dia deslizou ao teu lado.
Vestida de violeta a noite chegou:
violeta e gris.

Nós dois sentados numa mesa
daquele bar lá fora:

luzes, vozes incidentais,
estrelas sobre nossas cabeças,
um mundo que não toco.

Toco teu braço e me olhas
inacessível
sorrio.

Abraço tuas luzes.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Novembro

Veio ao meu encontro:
simplicidade da ternura, beijo molhado
na água do aquário.
Selvagem aroma de coisas obscuras,
coração chovido;

nos olhos, as cores do mar.

Eu, horizonte de sonho,
pés a flutuar.

Sol queimante da manhã:
andamos por aquelas ruas
de cansar os pés.

À noite,
ausente e invisível
a me buscar sem ver.

Itajaí, dezembro, 03, 2010
18h02

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010



Tuas mãos a tocar

sílabas

em meu corpo:

abundância de palavras

jorram


em versos pra ti!



Itajaí,02/12/2010 - 14h49




Dia com chuva: Aquarela de marlene edir (detalhe)




Incerto

De névoa esta manhã.


Depois chegou a chuva,
em rajadas,
a desabar sobre o silêncio das plantas.
Breve relâmpago prateado cortou
da chuva a gravidade.


Sussurro breve da tua voz nos meus ouvidos.
Beijo de chuva molhado.
Novembro, dezembro. Adiantada primavera.


Incerto breve: vazio de sol.


02 de dezembro de 2010
Itajaí,13h03

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Beira Rio: aquarela de marlene edir


Aquário

Final de tarde de mormaço,
a tua espera me deparo a chamar teu nome:
lampejos de luz, vitalidade de cores, mantra
pelo vento arremessado, varou o púrpura do céu;
mas te escondes circunspecto,
em estufa de vidro, látego,
no teu aquário.

Meu chamado bateu como inseto na vidraça.
Do quintal, vi o crepúsculo
abrasado transformar-se em crua luz,
pálida tinta de paleta de aquarela.
Fugidios pigmentos de ausência.


Um pôr-do-sol a mais.

30,novembro/2010
17h05

domingo, 28 de novembro de 2010

Aquarela de marlene edir (sem título)


Espera

É quase reeditado, mas não cansa
ficar aqui sem fazer nada:
o hibisco a exibir suas pétalas
aos últimos raios de sol, tremular de avencas,
dente-de-leão a espalhar sementes

ao vento, não me cansa,
ainda mais agora,

impregnada do violeta e fúcsia deste pôr-do-sol,
quando tudo em volta e até mesmo o tempo
fica tão devagar,
parece até que pára.

Mas ele fica a espera.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Dente de leão: aquarela de marlene edir


Fragmento

Final de tarde,
vazio,
caos divido,
dividido pensamento,
fragmentado mormaço de fim do dia.

Falar aos quatro ventos.
Abrupto, de boca enorme,
chega janela adentro.
Come pensamentos.

Tão claro agora.


sábado, 20 de novembro de 2010

Nebulosa rubra: aquarela de marlene edir


Desejo

Desejo


Tem um tom de vermelho meu desejo,
vesti uma calcinha da mesma cor
da cor do vinho, que bebi na taça,
depois senti calor.

Vesti também meu rosto do desejo
(às vezes essa transparência me incomoda).
Fiquei igual ao vinho, puro rubor.

Mas disfarçar nem fez-se necessário,
todo rubor aos poucos dissipou.

Somente a calcinha ficou fora do tom.

Lua cheia: aquarela de marlene edir


Pálida

Olhei no céu,
nem foi preciso confirmar no calendário;
é lua cheia, sim,

acima do muro: soberba e pálida,
a espreitar o meu desejo.

Descrente

Menstruou pela primeira vez aos onze:
menina, ainda brincava com boneca
nem seio tinha; magrinha, tipo vareta sem graça,
os braços pareciam maiores que todo o corpo,
sabia mais ou menos daquilo tudo
nas conversas na escola,
mas ainda esperava a palavra da mãe,
porque mãe era quem sabia naquele tempo,
tinha a palavra certa.


Tentou lavar a calcinha no tanque,
mas da mãe nada se escondia,
que sem muita conversa, perguntou:
- Já?
De inadequação o olhar da mãe

e rezou a noite pedindo com devoção
que tal não voltasse a acontecer,
sentia alguma coisa diferente;
nem de brincar dava mais vontade.

Cedo também aprendeu a ser descrente.



quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Estrela: aquarela de marlene edir




Busca

Quando canso do silêncio da casa,
faço versos
pra te encontrar.

Escondo solidão
em palavras soltas;

solto-as no ar!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010


Oquidões


Desordenado vento
de teu silêncio, revolto e obscuro
a varrer corpóreas e intrínsecas oquidões,
salpico de hesitantes abismos:
levou em turbilhão
poeira de estrelas, galáxias,
turmalina de olhos marejados,
olho d’água,
redemoinhos, remansos,
volúpia de ambíguo deleite.

De olhos no absurdo a pés fincados no chão:
sonhar montanhas,
rudeza objetiva do óbvio.
Envaidecida com fragmentos
segui-te em atalhos,
corredor de ilusório acorde
ampliado de tua voz tingida de arco-íris.

Absorta na tarde esvaecida

a saber pouco de resíduos,
quase nada:
fragmento de cigarras secas, casulo,

de esqueleto de folhas, movimento de avencas,
código das pedras.

Despedida de tarde
macia e gris.
Sussurros da noite
imensa te afasta de mim.



quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Instante

Abri a porta do quintal,
olhar a cor do dia:
a manhã entrou;

com ela teu cheiro,
arrebatadora presença.

Ah!
Bem que podias
escrever-me um poema,
qualquer frase solta
de duplos sentidos;

pena...
Já se foi o instante
e o dia se vai;

acho que é assim, quase tudo,
esvai-se num segundo;

queria-te agora,
amanhã: distante
demais.




Fúcsia



Ficaria assim:
(precisa mais?)

a dançar contigo noite adentro,
pernas a roçar as tuas,
ocasional
(ou não).

Guio-me pelos teus passos
no ritmo,
corpo aquecido no teu,

fúcsia:
da cor da blusa.

domingo, 24 de outubro de 2010

Final de tarde: fotografia de marlene edir




Esboço

Estava por aqui
a tingir o papel de aquarela
com as tintas desse instante:

salpiquei de leveza tua imagem,
olhos focados em quimera
a valorizar teus nadas,
absurda e ilusória me recrio a cada hora.


Em atalhos poeirentos percorridos,
vislumbro estreito corredor de estrelas;
recrio-te: incansáveis começos,
recomeços ambíguos,
frágil contentamento com teus poucos.
Escassos.

Desnecessárias palavras, agônicas a escorrer,
artéria silenciosa de inúteis percursos
esvaecida ao vento;
dançam no ar, resquícios: sementes de dentes de leão,
asa de borboleta, esqueletos de folhas,
suaves plumas de algodão
salpicadas de violeta, malva nuvem,
gris.

Areia fugidia da ampulheta, contagem do tempo,
gozo finito.
Silencioso desalento de imagem borrada,
vestígio de tarde guardado no papel,
absorto desejo, confuso, imenso.

Tépido poente a tingir o céu.

Marlene edir severino




quinta-feira, 14 de outubro de 2010


Úmida alma incorporou
resíduos da tarde,
da chuva intermitente
que aqui passou;
impregnou ranhuras de saudade,
imenso querer:

vontade de te ver

Espaço Oco: Aquarela de marlene edir severino



Nada



Neste momento íntimo, Intrínseco,
numa fantasia do nada, reverência ao vazio,
a valorizar resíduos do teu silêncio,
imaginar frescor em gastas palavras,
fico aqui a te sorver,
num desejo de tocar teu espírito,
maior talvez até do que
o de querer tocar teu corpo;

vislumbro arco-íris de cores dos começos,
mas este sutil entremeado,
é mera nesga de pó do que se acaba,
tem o valor de um nada,
sequer começou ou existiu.

Nem quis aqui buscar conceitos
ou certezas meras,
quando falta a palavra para o indefinível,
melhor ficar assim, a esmo;

e esta chuva agora,

fria, não mais do que esta voz
que se agiganta
e vem do poço, das entranhas,
dura, faminta,
diz coisas que não quero ouvir.

Também faz frio lá fora.

marlene edir severino


domingo, 10 de outubro de 2010

Poema

Parece que há muito te conheço,
acredita?
mas como, se somente agora é que te vi,
não fosse cética te diria:
de outra vida;
mas nem eu creio,
como impor a ti?

Nos olhamos mais do que falamos,
silenciosa conversa, de muda fala,

mas de intensos olhares,
(que olha, olha e nada diz).


Vamos,
pergunte o que quiser saber de mim,
esvazia-me, fala comigo,

ou fiquemos assim, sem dizer nada,
pois já nos conhecemos uma vida inteira,
e somos um poema
que pulsa apenas.

Desnecessário falar ou escrever.


Tingidos das cores do arco-íris
nos avistamos
(pois assim são todos os começos)
mas de singulares tons,
surpreendentes
e nunca repetidos

Novo planeta: aquarela de Marlene Edir Severino




quarta-feira, 6 de outubro de 2010



Fico aqui a me perder
e te perco o tempo todo

na multidão:

nas ruas sem saída, nos becos,
botecos,
perdendo o ônibus,

na estação;

o tempo todo fico a te perder,
a me perder;
e é desse jeito inexplicável

assim,
bem dessa forma, que te sinto
em mim.

domingo, 3 de outubro de 2010


Mantra

Faltam vogais no teu nome
que falo alto
até me acostumar:

e se transforma em som,
vara o azul esverdeado das montanhas
rouba a linguagem do vento
quer te chamar.

Teu nome de poucas vogais
ressoa como mantra
em meus ouvidos.

Resignado.
Validade

Ando meio hiperativa,
quem sabe tem a ver com a idade,
quero que as coisas aconteçam
na freqüência de meus pensamentos;
parece que meio minuto depois,
perdeu a validade.

Qual é o teu tempo?
O pé na frente, o futuro?

O meu, nem presente é mais:
quero o tudo num segundo -
o é na mais pura essência;
quem sabe estou noutro mundo?

A cada final de semana,
parece que passou o mês.
de tantas coisas que fiz -
já o tempo, se arrastou
lento demais.

E ficas aí decidindo,
se queres estar nos meus braços;
eu, já decidi isso faz tempo:
daqui a pouco
nem vale mais...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010


Lua Cheia


A tarde finda de magenta e púrpura
e a noite traz de reboque
a lua de prata:
cheia. Imensa de delicadeza

Breve


Ainda aguardo que me fales:
vagas promessas,
mas nunca escreves
apenas recebo um breve...

Breve nos encontraremos.


Ínfima
partícula fiquei
diluída no teu silêncio:

Escrevi demais
vai ver,
foi somente para esconder
o que não tive
coragem de dizer.

Agora silencio eu também
teu silêncio desconcertou meu poema
e como subtraio esse tema
Se já te somei a mim?

segunda-feira, 20 de setembro de 2010



Abissal


O vinho tinto, seco e forte
desceu líquido,
pela garganta quente:
jorrou a cântaros, sentimento sem fronteira
de alegria abrupta;
pulsante de palavras. Açambarcador.
Fictício.

Vazio teimoso da casa: silêncio abissal.
Vinho esquecido sobre a mesa,
cama feita,
cheiro do algodão lavado,
misturado ao manacá das frestas da veneziana;
nos alvos lençóis deitou o corpo
apinhado de invisíveis estrelas

longínquas,
eqüidistantes.

domingo, 19 de setembro de 2010



Enchente matinal



Nessas linhas parcas, envio
a transparência das nuvens no azul,
um pouco do ruído do oceano,
da impulsividade do vento sul:
sopro de luminosidade em palavras,
que me invadiu, incandesceu...

Nessa enchente matinal,
traduzo a solidão da pedra,
com leveza de avencas do quintal;

e num gesto puro,
envio este texto sem forma,
amostra de imediato querer:

tou com vontade de te ver!

Aquarela: Nascimento de uma estrela


sábado, 18 de setembro de 2010

Cores

A calça, jeans,
camiseta escura -

acho que preta,
de um verde-musgo, a jaqueta,
vestia só no final;

tento lembrar,
nem percebi,

focada nas cores,
na luz,
que exalavam de ti!




quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Miragem


Tua voz vibrou nos meus ouvidos,
suave som de caixa de música,
eriçou pelos,
deslizou no corpo


pétalas.

Dura realidade cortou o sonho com gume de sabre
como se corta do peixe a guelra;


miragem.

Biscoito da Sorte



Prospecto de tempo emocionante
à frente – vale acreditar.
sabor de amora silvestre aquecida ao sol da manhã,
cataplasma de estrelário,
fictício talismã.

Frescor da boca da noite,
úmida grama; exala do canteiro, o cheiro do manacá,
jasmim.

Chuva de estrelas no céu, Vênus,
vislumbre de completude,
búzios, I ching.

Enigmática conspiração dos deuses,
intrínseca constatação.





quarta-feira, 15 de setembro de 2010





De nuvem


Avassala a voz do penhasco, caixa de palavras
da tua voz incrustada no silêncio
a tamborilar nos meus ouvidos;
tempo nada,
desejo sem dono que habita,
palpita, som e areia.
Fugidia vida escorrendo, sopro de tule,
ao vento, sementes de dente-de-leão.

Abocanho palavras: te guardo inteiro, em pedaços,
intenso, fugidio,
despedaçado mosaico: enigma.
Textura do rochedo tateio,
tatuagem de melancolia.
Te guardo. Fechado: casulo.

Prazer e atrito, aberto,
incomensurável.
Que finca na retina, a voz, sorriso, presença
num tempo sem horas, resíduos tateio,
- canção imantada, gravada, intensa.

Inundada de anseios, vislumbro percursos;
desejo sem dono, sopro.
Quase nada.
Respiro resíduos...


Marlene Edir Severino
Da pedra-ume dos teus lábios na minha face,
imaginei teu gosto...

Porque não penso em nada

Ata, fúcsia,
Colher de prata,
Dançam em minha cabeça
Feito águas-vivas num rosnar torpor.

Antes, denso e negro,
Agora, gris;
Sutil geometria
Que encalha embarcações no mar.

Volta ao mundo, lodo acústico
Enroscar de palavras, duplos sentidos,
Madressilvas no lavabo.

Ata saudável véu,
Nenhum estilo,
Estufa de ausência!

marlene edir severino

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Do velho tanque para o córrego,
A rã salta o som da água.

domingo, 29 de agosto de 2010

Vaso de Pervincas

Véspera de nosso encontro.
Furtivo – em plena luz do dia;
Mas já estava escuro.
Olhei o céu – vício de estrelas molhadas,
Cassiopéia,
Faísca de estrela cadente,
Senti tua falta. Sonoro silêncio,
Imenso, feito areal.
Restou o vaso de pervincas.
A cama feita, de fino pano arcaico. Safira.
Chamei-te em vão.
Tossir doeu a garganta.

Ficou o salmão, caranguejo, a mesa posta.
Vesti a coroa de espinhos da tua falta. Língua bárbara.



marlene edir severino
Amor

O que é o amor?


Coroas de branca espuma,
Poço que cintila,
Sumidiça cousa a pungir,
Embaça o ruído do oceano dentro do peito,
Delicado acorde, aroma de mil flores,
Ora temporal, ora suave sopro
Que decanta em luminosidade,
Açude de açucenas,
Disfarce de leões marinhos
A rede vertebral que aurifica tolos,
Luminosidade,
Puro poema.


Neblina vivificante
Aroma do paraíso!



marlene edir severino

Shiva

Quando o vento fabrica o bambu ...


Aguaceiro, cheiro de terra molhada,
Céu arenoso, trovoada, som de canhões,
Escuro feito breu, prenúncio de tufão,
Pedido de socorro, barulho na escotilha - náufrago
Cheiro de tabaco, incenso, é shiva no banho de chuva;

Desceu do jardim de camaleões.

marlene edir severino

Estrato-cúmulo



Quando é que a água sabe que é molhada?


Nuvens no azul do céu,
Crepom e linho cru
Estranheza nítida de metáfora.

Azuláceo firmamento, cândido.
Paço líquido
Lívida, procura úmido refúgio

Pranto de torpor a tatuar o véu...

Marlene Edir Severino

Trevo de Quatro Folhas

O som do jazz acústico, íntimo som, soou fresco -
Jarro d’água, sorte ininterrupta.

marlene edir severino

Azulejo Quebrado

Da Oficina da Palavra Selvagem de Fernando José Karl realizada de 23 a 27 de agosto no SESC,



resultaram alguns poemas...


Diante do azulejo quebrado do casarão a beira-mar
O pensamento desce rápido feito aguaceiro,
Em cântaros, nas cinzas das horas,
A verter doces lembranças.

A luz que se abre ao fundo e espalha-se pelo quarto,
Traz o vento perfumado de flor da laranjeira -
Suave , pensamento certeiro feito flecha,
Atinge o alvo num vendaval de imagens.

O tempo deixou de contar naquele instante,
Quarto na penumbra, a “ la media luz “ ,
Corpos colados numa dança louca,

Roupas atiradas, leque branco, imagens guardadas
incólumes, como se guarda em ânfora –
sal do paraíso, casarão a beira-mar.

marlene edir severino

domingo, 27 de junho de 2010

Trabalhos publicados na Câmara Brasileira de Jovens Escritores - CBJE



Contos

Além da Imaginação, Março de 2010, com "Sapatos" - Março de 2010

Amor & Desamor, Abril de 2010, com "Meio Século" - Abril de 2010

Contos de Outono,Maio de 2010, com "Insetos" - Maio de 2010




Poemas

Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, livro 62, -"Como a Esfinge" - Março de 2010

Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, livro 63, - "Além do Quintal" - Abril de 2010

Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, livro 64, - "Secreto Desejo" - Maio de 2010

Os mais belos Poemas de Amor, com "Sem Horas" a ser publicado em 10 Junho de 2010

Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea, com "Você", a ser publicado em 10 Julho de 2010


sábado, 5 de junho de 2010

Secreto Desejo







Sem o som de nossas vozes
tudo parece ainda mais secreto
e cúmplice quando conversamos.

Deixamos as horas escorrerem
entre nossos dedos
saboreando a libido
exalada de cada palavra teclada,
de cada desejo tornado palavra.

É como se pudéssemos sentir
nossas peles se tocando,
frenesi de pernas roçando,
o calor de nossas mãos tateando
na mútua descoberta de nossos corpos;
como se conseguíssemos ouvir
o som entrecortado de respirações ofegantes,
descompassadas,

taquicardia,
palpitação...

Entramos um no outro
e nos pertencemos a distância
numa voluptuosa sintonia de palavras
algumas sugeridas,
outras, apenas imaginadas,
secretamente desejadas...



Marlene Edir Severino
Publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - CBJE,
livro 64,maio/2010

... um conto


MEIO SÉCULO


Acordou cedo como de costume e correu para a frente do espelho, pensando enquanto olhava criteriosamente cada centímetro do rosto: cinquenta anos! Que susto. Meio século. Tinha que se sentir feliz, afinal estava de aniversário. Tem quem morra antes. Em vão tentava se convencer.
Enquanto fazia café e o bebia, mastigando o pão integral com banana assada no microondas, Helena planejava mil coisas para o dia, que imaginara especial. Sempre valorizou muito o dia do seu aniversário. Quando ainda estava na ativa, numa rotina sem atrativos e já contando os anos finais para a aposentadoria proporcional e antecipada, preferia faltar ao trabalho nesse dia e reservá-lo somente para si. Fazer coisas prazerosas sem preocupação com o tempo: horário de voltar, ir nadar, comprar camarão no mercado, um sapato interessante da vitrine da loja, o que desse na “telha” sem nenhuma pressa. Fazer sua comida preferida – e todas as suas vontades, enfim. Viver cada minuto, sorvê-lo, fazê-lo durar em prazeres.
As coisas haviam mudado desde a aposentadoria. De início foi um vislumbre. Liberdade. Tempo para tudo que quisesse – até para não fazer coisa alguma. Recolhimento, solidão opcional. Escolhida. Era uma sensação de completude, sem qualquer neura com idade.
Que raio de sentimento era esse afinal, que pela primeira vez lhe deixava sem qualquer desejo de ficar contente no seu aniversário? E sem nenhuma vontade por mais atrativa que fosse a idéia, para festejá-lo a seu modo?
A sensação era densa. Um peso sobre os ombros, mas insistiu na tentativa de animar-se com a data.
Fez planos mirabolantes. Imaginou telefonar para algumas pessoas; com algumas anteviu o transcorrer do dia e não lhe atraiu. Mentalmente deu-se conta da previsibilidade de tudo. Desistiu dos telefonemas. Com outras, deu-se conta a tempo da estupidez do ato e abortou todas as tentativas. Definitivamente.
Pensou em fugir de casa e riu da idéia, lembrando-se de remoto desejo em tempos passados, vivenciando um casamento desgastado pela rotina. Mas eram outros tempos agora, Helena!
Um SPA, quem sabe? Passar o dia todo lá e não ter que receber pessoas que não desejava ver nesse dia: receber felicitações, ter que providenciar um bolo, que nem comeria, refrigerantes, que nem beberia, ganhar presentes, que provavelmente nem usaria. Livrou-se rapidamente desses pensamentos.
O telefone começou a tocar e decidiu tirá-lo da tomada. A idéia do SPA voltou a tamborilar em sua cabeça. Mas ficar lá sozinha? Solidão era tudo o que já possuía. De sobra.
Pensou em Humberto e sem racionalizar muito, pois desse modo acabaria não fazendo, sentou-se ao computador e mandou-lhe uma mensagem, sondando o terreno, querendo saber como estava, como andava seu humor, se seus problemas na empresa se resolviam e coisas assim.
Seu humor continuava ácido. A resposta econômica de palavras logo lhe deu a certeza que as coisas não andavam muito bem. Os homens ficam assexuados quando têm problemas financeiros.
A tarde já findava quando se deu conta de que nada fizera de prazeroso. O tempo transcorreu na tentativa de tornar melhor o seu aniversário. O sentimento de peso continuava. Mas o que pesava mesmo era a sensação de insignificância. Já estava se achando a pessoa menos importante do universo. Passaria facilmente pela fresta debaixo da porta, iluminada agora pelos parcos raios solares do dia que estava a findar.
Melhor tomar uma ducha, sempre lhe deixava melhor.
Olhou-se no espelho enquanto secava o corpo, dando-se conta de que apesar da vida saudável que procurava ter, seu corpo já não tinha viço. O sentimento de que havia se tornado transparente aos olhos dos homens era uma triste constatação, agora também refletida no espelho, para que nenhuma dúvida disso pairasse.
Tentou um último gesto ainda, no desespero de salvar o dia, ou o significado da data. Derradeira insensatez: mandou uma última mensagem, teclada na esperança de poupar a noite de seu aniversário, pelo menos, sugerindo sutilmente um jantar, a dois, regado a um bom vinho. Preferiu não fazer menção ao aniversário e ficou aguardando. Desistiu dos outros planos e focou a atenção no visor do computador que inexorável lhe informava que não havia mensagem na sua caixa de entrada. Zero mensagem.
O resto do dia arrastou-se sofregamente.
Antes mesmo que a noite chegasse colocou os gatos para dentro de casa, alimentou-os. Fechou todas as janelas.
Ficou tudo cinzento, a hora do lusco-fusco, como dizem. Sentia-se igualmente cinza por dentro. Preferiu não ver escurecer, melhor ficar com o gris.
Desligou o computador. Enfiou-se debaixo das cobertas e foi dormir.



Malene Edir Severino

Publicado pela CBJE, contos selecionados Amor & Desamor e está entre
os mais acessados do site.


sexta-feira, 4 de junho de 2010

Como a Esfinge


Descreva-me
sob tua ótica,
quero me descobrir
no teu olhar,
saber o que vês
quando me olhas,
o que interpretas de mim
quando me dissecas.

Decifra-me
ou devoro-te!

Nesse instante,
quero
contigo me sintonizar,
entrar na tua frequência,
te captar,
te capturar e
somente depois disso
e com muita calma,

te devorar!



quarta-feira, 12 de maio de 2010

... sobre o tema

Além do quintal não é somente um poema.
Pode ter sido inspirado no meu quintal,
ou num momento de recolhimento
no intrínseco quintal ,
conduzido nas asas partidas
d'alguma borboleta no seu efêmero voo;

ou, quem sabe, num tapete voador
ultrapassando os limites do quintal,
mais além, noutras galáxias
e transcendeu

Além do Quintal!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Minha entrevista na CBJE


Catarinense de Itajaí, sou graduada em Serviço Social, com especialização em Política Social, ambos pela Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, (UFSC). Aos 13 anos de idade, estimulada pela professora de português que gostava de minhas redações, passei a ler com mais frequência e escrever sobre meus sentimentos e as coisas que observava. Mais adiante, na vida profissional e concomitante à atividade exercida junto ao judiciário fiz incursões nas artes plásticas e na literatura como atividade paralela, sem maiores pretensões, apenas como forma de criar uma realidade diferente de meu cotidiano. Participei de algumas exposições coletivas como membro da Associação de Artistas Plásticos de Itajaí e de duas mostras individuais. Aos poucos e sem perceber, escrever acabou se tornando uma maneira prazerosa de entrar em contato comigo mesma e praticamente a principal ocupação, para a qual dispenso minha melhor energia. Agora, mais amadurecida, filhos criados, (ambos médicos), posso dedicar mais tempo a pintar aquarelas e escrever textos, impulsionada apenas pelo gosto, vivenciando minha essência mais pura. Considero-me como meus animais, um bicho doméstico, atenta aos ensinamentos que me proporcionam na convivência diária. Amante da natureza nos dias de sol ou chuva, independente da estação; gosto de ler – e amo poesias. Dentre meus autores preferidos estão Virgínia Woolf, Hermann Hesse, Friedrich Nietzsche, Franz Kafka, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Sylvia Plath, Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Mário Quintana, Manoel de Barros. Olho o céu todos os dias. O de abril é o mais lindo, de um azul indescritível! Gosto do meu quintal, de comer a fruta colhida do pé, de cultivar temperos. Também de nadar, cozinhar. Pinto aquarelas, escrevo contos e poemas. A literatura em minha vida Aposentei-me pelo judiciário, aposentadoria antecipada e opcional, (e redução de vencimentos), impulsionada pelo desejo de viver melhor os meus dias. A partir daí passei a escrever de maneira sistemática, focando na poesia meus sentimentos e utilizando-me de alguma imaginação. O ato de escrever tornou-se um exercício quase diário e um resultado prazeroso ao ler os poemas. Mas chega um momento que surge a vontade de mostrar o trabalho também as pessoas do convívio diário, mais tarde vem o desejo de expandir a outras, mais distantes, estimulada até pelos amigos, que de alguma forma gostaram do que leram. Passei a enviar meus trabalhos a concursos literários. Selecionada com três poemas, estarei entre os participantes da Edição da Coletânea Século XXI Poeart de Volta Redonda, RJ, lançamento previsto para este ano. Em 2008 participei de um curso de formação de escritores junto ao SESC e o resultado foi a publicação, juntamente com os demais participantes, de micro contos intitulado o Livro das Pequenas Cousas, organizado por Carlos Henrique Shcroeder, Coleção Cadernos de Autoria, v 18, cujo lançamento aconteceu em fevereiro deste ano. A partir desta experiência passei a interessar-me também em escrever contos. Anterior a qualquer curso ou estímulo externo já esboçava o sonho de editar um trabalho com poemas mesclado com algumas criações na pintura, onde migrei do óleo sobre tela, para a leveza da aquarela. Atualmente estou na fase de revisão final de meu livro, composto de poemas com ilustrações em aquarelas, que pretendo publicar ainda este ano. Hoje, a “escritora” em mim tomou quase todo o espaço da “artista plástica.” Não consigo ficar um dia sem escrever pelo menos uma frase, ou somente algumas palavras soltas que chegam de improviso e que rapidamente corro para anotar, assim do jeito que se apresentam. Como tomei conhecimento da CBJE Em dezembro de 2009, através do amigo Ricardo Steil, poeta, escritor, com livros publicados através da Câmara Brasileira de Jovens Escritores, numa reunião com pessoas interessadas em literatura, incentivou-me e a outros colegas a participar das seletivas da CBJE, oportunidade em que vislumbrei nova possibilidade de divulgação de meus trabalhos. Em janeiro deste ano fui selecionada na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos com o poema “Como a Esfinge”, vol. 62 e tal não foi minha surpresa e satisfação ao constatar que estava igualmente selecionada na Antologia Contos Além da Imaginação com “Sapatos”. A partir daí passei a fazer parte também das antologias subsequentes, ou seja, a 63 e 64, com os poemas Além do Quintal e Secreto Desejo, respectivamente e também da Antologia de Contos Amor & Desamor, com o conto Meio Século e na Antologia Contos de Outono, com Insetos. Aproveito a oportunidade para expressar meus agradecimentos a Câmara Brasileira de Jovens Escritores pelo espaço concedido na divulgação de meu trabalho, também pelo carinho e atenção dispensados sempre que solicitados e a oportunidade que oferece aos poetas e escritores de um modo geral - valiosos talentos espalhados pelo Brasil. . Aos que estão começando Aos colegas escritores, poetas, que estão iniciando assim como eu, gostaria de dizer que ler, ler sempre e cada vez mais é a condição primeira para o aprimoramento da escrita. O escritor nunca está pronto, assim como o conto ou o poema que escreve – pode sempre ser refeito e retomado a qualquer tempo. Deixar que as idéias venham sem censura, que fluam soltas, livres, é imprescindível para o processo de criação. E escrever sem preocupação com o leitor; escrever sobretudo para si próprios, com o intuito de agradar-se antes de mais nada. Ou seja, o compromisso do escritor antes tudo é com ele mesmo. O melhor conselho? Deixar que flua a sua essência. Ouvir sua voz interior quando estiver escrevendo. E escrever. Sempre.