Seja Bem-Vindo

Seja Bem-Vindo

terça-feira, 29 de março de 2011

Da Casa


Conheço da casa seus ruídos

que mesmo sem dizer-me

conhece bem os meus,



também aqueles

entrecortados

que abafo num disfarce

e misturam-se aos demais ruídos.


Finjo que não são meus.


(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)

Março, 29 de 2011

sábado, 26 de março de 2011

Nem Palavras



Um oceano inteiro de silêncio,
um mapa,
esta aparente total falta
de ruído na noite,
voz nem mesmo há,

ausência do teu corpo,
nem palavras
a descerem pelas mãos.

Tatear vocábulos
calar a voz na garganta
que não sabe o que dizer.

Na casa adormecida
silenciar pulsação
e deixar que feneça

mudo,
isento de palavras
o instante desta ausência.

(Imagem:aquarela de marlene edir severino)
Março, 25 de 2011


sexta-feira, 25 de março de 2011

O que Fazer com Asas



O que fazer com asas

com estas asas alongadas,

imensas,

que ainda tento esconder

misturadas nessas nuvens

a querer varar o mar

em alçado voo,


o que fazer?


com este olhar distante entristecido

a divagar,

olhos fixos na linha do horizonte

repetindo um nome docemente,

feito mantra,

ingenuamente aguarda anelada imagem

a se concretizar,


o que fazer

com estas palavras todas que jorram

a querer calar a voz da garganta

e descem pelas mãos

tateiam sílabas

e às vezes nem sabem

o que escrever,


que se agigantam e se aquietam

em mudos sentimentos,

intensos,

quase secretos são...


O que fazer?



(Imagem: aquarela de marlene edir severino)

Março, 25 de 2011




segunda-feira, 21 de março de 2011

Mar na Manhã


Renasce a cada novo dia
ao primeiro orvalho da manhã,
de muda fala, amplitude
entre as mãos, sobra de lume,
com leveza do crepom e
tule de nuvem,
flutua no azul na tênue linha
do horizonte,

faz levitar
renovado

a cada manhã
na companhia do vento agita o mar,
respingos e espuma,
a cada segundo repetido,
desigual movimento
traz o cheiro da ostra, maresia

a leveza na liberdade do mar
na quase deserta manhã
na mudança de estação,
renasce, renovado

na manhã bem cedo ainda,

um dia
de um março qualquer...

(Imagem: aquarela de marlene edir severino)
Março, 21 de 2011

domingo, 20 de março de 2011

Fixo


Vago espaço
que restou do áspero
a prolongado intervalo
fixo
a impressão de
que tudo havia sido dito.

Lembranças tatuadas.

(Imagem: aquarela de Marlene Edir Severino)
Março, 20 de 2011 (domingo)

sábado, 19 de março de 2011

Viagem

Ditada pelas circunstâncias,
postergada pelo acaso;
de pretenso a permitido resultado:
interna viagem, conspiração dos silêncios.
Habitar de serpente
sinuosa a devassar entranhas,
intrínseco corpo a se conhecer nas profundezas
de anseios invadido, soturna agonia,
caminhar sôfrego, largas noites insones,
percurso silencioso de estranhos labirintos,
solitário tatear em rugosas superfícies,
a vislumbrar cores na sombra, sorver:
consentida solidão,
vazio, caos.


Março, 19 de 2011

(Nota:Referência a uma viagem empreendida em 19/03/2010, não planejada, que somente coube-me aceitar e que afinal, trouxe-me grandioso aprendizado,como traz cada dia, cada milésimo de segundo que se vive neste planeta...)

quarta-feira, 16 de março de 2011


São todos teus
esses versos românticos,
açucarados,

apesar disso
não são contra-indicados:

é tua a primazia
divido contigo
(em segredo)
a autoria.

Março, 16 de 2011

terça-feira, 15 de março de 2011

Sem Detalhes


Palavras tuas
tocam-me, teus versos
incendeiam-me.

Tenho pés de bailarina
mas nunca fiz sequer
uma aula de balé,

cheia de imperfeições sou
imperfeita
sem rotina,

assim te quero
sem detalhes.

Sintonizo-te,

mas não me perguntes como faço:
sequer consigo
responder-me.

(Imagem:aquarela de marlene edir severino)
Março, 15 de 2011 – 22h10

segunda-feira, 14 de março de 2011

Retalho



Retalho de final de tarde,
busco no silêncio
gesto fugidio,
de esvaziado sentimento
impregnado do indefinível,
nenhuma outra palavra,
incerto poema, a abreviar
vaga distância.

Apenas essas águas e
uma imagem congelada,
esvaecida,
inexorável ruído do mar.

Mais nada.

(Imagem:aquarela de marlene edir severino)
Março, 14 de 2011

sábado, 12 de março de 2011

Imensidão de Coisas



E agora
estas palavras todas a pairar
e tantas
soltas entre nós,
tantos segredos,
imensidão de coisas
que não dizemos e são muitas
e tantas
e nem mesmo sabemos
se esse tempo todo
ou se ao menos algum
ainda teremos pra dizer,
então,

diz-me

com tua alma,
assim,
pactuado, desse jeito mesmo,
silencioso sopro exalado
da tuberosa raiz às intempéries
chuva, vento,
tempestades, tantas alternâncias
das marés daqui

a sedimentarem-se no tempo
a procura de sinais,
olhos na linha do horizonte, ao vento,
estrelas, firmamento,
com todos os sentidos
aos enigmas fico atenta a desvendar:

diz-me, então,

se apenas é o eco do meu chamado,
se me respondes,
ou se tua é a voz que ouço
a me chamar...

(Imagem: aquarela de Marlene Edir Severino)
Março, 12 de 2011 – 12h02

sexta-feira, 11 de março de 2011

No Horizonte


Cheiro de outono
na manhã:
alga na areia,
maresia.

Céu, mar,
solidão
de pescadores.

O mar espuma
na pedra
lisa da água
fria.

Deslizam sonhos

do olhar
no horizonte.

Março, 11 de 2011

quinta-feira, 10 de março de 2011

Nas Asas


Sairei em viagem daqui
ainda madrugada,
nas desiguais,
despedaçadas asas,
de cores invadidas, misturadas

e no caminho
roubarei das estrelas dispersas pelo azul,
poeira de cintilâncias para meu olhar
e ao primeiro orvalho da tua manhã
abandonados os mapas de lonjuras no percurso,
vãs coordenadas, inútil geografia de
corpórea fronteira,

alcançar a margem de seguro porto,
numa estranha sintonia de encontro,
nos sinais do vento:
dança da folha, semente que plana,
silencioso pacto em segredo
selado na tua manhã.

Estarei contigo sem palavras
em olhar de estrelas a anelado rosto,
aquelas, roubadas,
a iluminar imenso, ansiado abraço.

Março, 10 de 2011
Imagem: aquarela de marlene edir severino)




quarta-feira, 9 de março de 2011

De pele


Faíscas dos teus olhos
no meu
singular contorno.

Nossa pele
a roçar
pelos
na penumbra.


Corpos de vidro
diáfanos
despedem-se
na translúcida manhã

trocamos de pele.

Março, 9 de 2011

terça-feira, 8 de março de 2011

De Cinzas e Fotografias



Do fogo que queimou
e consumiu guardados
em gavetas de sorrisos
de rostos de cor e viço
a despojos retorcidos.

De tempos vagos,
vaga memória restou,
da manhã de uma qualquer
segunda-feira,
algumas cinzas.

(Imagem:aquarela de marlene edir severino)
Março,7 de 2011

domingo, 6 de março de 2011

Quero


A voz da tua boca

a cuspir cruas palavras

ambíguas,

também doces e ternas,

teu olhar refletido

nos meus olhos

de mel,

quero

teu sorriso de novo

a medida do teu imenso abraço

em volta do meu corpo,

o dilatado gozo

ancorado no tempo

isento de partida.

(Alamanda: aquarela de marlene edir severino)

Março, 6 de 2011

sábado, 5 de março de 2011

Gosto do sal





Um pouco
da água do mar
no corpo

mistura
o gosto
do sal
do rosto.
Imagem: aquarela de marlene edir severino)
Março, 05 de 2011

sexta-feira, 4 de março de 2011

De Mar


O nome contido no mar
de peixes, opostos nados,
contínuo movimento: lançar as águas desaguar,
final e recomeço amalgamados,

lua em gêmeos, sol em peixes,
vênus em aquário, labiríntico mapa
de libra ascendente
instante que desatou ventos,
desencadeou tempestade
na melancólica seriedade, sabedoria de saturno,
e maturidade em netuno na casa primeira,
configuração da palavra, formas, cores.

A casa, quintal, porto seguro,
intensidade como leme, silêncio e solidão,
contrapontos da liberdade como escolha,
busca, procura,
fecunda fantasia, flutuação.
Um dragão que cospe fogo incrustado
nas coordenadas, incongruente mistura,

comunhão com os elementos,
captar intuitivo, sibila
nuvem, vento,
poeira,

não mais.

Março, 4 de 2011
(Imagem: aquarela de marlene edir severino)

quinta-feira, 3 de março de 2011

Aderência



É tão pouco tudo,

mas também às vezes parece
que do tão pouco
tanto sei

e fico a capturar cada palavra,
outra mais captar nas entrelinhas
somar,
até imaginar a imagem essencial,
absorver por aderência

nova partícula a cada dia,
outra fina camada de nuvem

a impregnar a primeira

incrustações,
poeira

de estrelas.


(Imagem: aquarela de marlene edir severino)
Março, 3 de 2011

terça-feira, 1 de março de 2011

Abstrações

Abstrato te quis
e tu achando que queria te prender
(se nem me tenho apego...)

E até te fiz alguns poemas,
faria outros tantos mais,
sabia?

Mas sonegaste a matéria
de poesia

Março, 1 de 2011

Dias de Vento



Vento a varrer apressado,

cascas, restos, folhas secas,
encantos no cheiro do capim-limão
incrustado de outros quintais por onde passou,
levanta poeira, apaga vestígios,
a bruma dissipa,
clareia a manhã.

Voam dos fios destroçados
da teia da aranha,
restos de insetos, sementes,
resquícios de asas levitam
a beber o vento no céu empedrado,
dançam no ar.


(Aquarela: rosa-dos-ventos de marlene edir)
Março, 1 de 2001